A pandemia de Covid-19 não fazia parte dos piores planos que se tinham traçado para o ano de 2020 e, transformou-se rapidamente numa desafiante maratona que todos tivemos de correr, enquanto indivíduos, empresas, comunidades e como civilização.
Estamos no início do novo ano de 2021 e a pandemia ainda não está resolvida. Algumas empresas ficaram pelo caminho, mas outras saberão prosperar, pela forma como enfrentam os desafios do presente e como se posicionam para o futuro.
1. Efeitos pandemia
A indústria do vestuário e da moda sofreu particularmente neste último ano. Embora ninguém tenha previsto a dimensão e intensidade da crise que nos assolou, o setor soube adaptar-se rapidamente , não só para dar continuidade aos seus negócios e minimizar os efeitos negativos da pandemia, como também para responder à necessidade urgente de apoiar a indústria da saúde na resposta à escassez de materiais como os equipamentos de proteção individual.
E foi neste percurso, que algumas empresas mais bem equipadas, descobriram que estavam já em vantagem, logo no ponto de partida, na medida da sua adoção do digital.
2. Necessidade adaptação rápida a uma nova dinâmica de mercado
Segundo um inquérito efetuado pela McKinsey em abril do ano passado, sobre o comportamento de compra do consumidor, estimava-se já nessa altura, uma quebra da intenção de compra no canal offline de 70 a 80%, tanto nos Estados Unidos como na Europa. Estes números revelam todo um novo paradigma de comportamento de compra. As sucessivas ondas da pandemia e confinamentos, parciais ou totais, bem como os receios da crise económica e os seus efeitos negativos, têm um impacto direto e em tempo real no comércio físico e na dinâmica de mercado, com a procura crescente e em sentido inverso do comércio por canais digitais.
Todos sabemos que apesar do crescimento do e-commerce até ser bastante significativo, não está a compensar em igual medida a queda das vendas das lojas físicas, mas será, no entanto, o canal que permite às empresas continuar a gerar negócio, não só durante a pandemia, mas também na fase de recuperação dos mercados. Sem expectativas que estes números tenham grandes alterações sem que voltemos a adotar alguma normalidade, as empresas têm de ser ágeis, para se posicionarem rapidamente nos canais preferenciais dos seus clientes.
3. Covid como acelerador da transformação digital
Apesar de consciente da necessidade da transformação digital, a pandemia veio mostrar as fragilidades de um setor por norma pouco tecnológico, com processos pouco digitalizados, assente em muitas interações físicas, em toda a sua cadeia de valor.
A necessidade de acelerar o processo de digitalização tornou-se premente. E por digital não se deve entender apenas na perspetiva de um novo canal de vendas, mas também uma oportunidade das empresas repensarem as suas estruturas e se adaptarem, emagrecendo custos e melhorando processos.
As organizações que já tinham iniciado esta mudança, terão sido mais ágeis a se adaptar no início da pandemia e poderão ter aqui uma vantagem significativa face à concorrência. As organizações com baixa presença digital poderão ver nesta situação a oportunidade de se assumirem 100% online, ganhando quota no mercado com investimentos menores, a par dos seus concorrentes que por terem estruturas mais robustas, terão uma curva de transformação digital mais longa.
4. Perspetivas de alteração a longo prazo do comportamento de compra do consumidor
A Covid-19 trouxe grandes transformações nos padrões de compra e nos hábitos do consumidor, revolucionando toda a cadeia de valor.
O que os dados dos últimos meses nos têm revelado é que o consumidor será tendencialmente mais responsável e moderado, com processos de compra mais refletidos, na procura por produtos que efetivamente lhe tragam valor. Multiplicaram-se também os pontos de contacto e o número de interações, e exige-se maior rapidez e flexibilidade na cadeia de fornecimento.
A expectativa após um ano, é que a retoma seja longa e lenta e inevitavelmente com reflexos definitivos no balanço entre o online e o offline. O online terá o seu espaço, agora maior e mais bem preparado para responder à dinâmica do mercado e as lojas físicas terão um novo papel, de suporte às encomendas online ou para serviços e produtos mais personalizados.
Qualquer que seja o cenário, a transformação digital já começou e os dados terão um papel fundamental para ajudar as empresas a saírem mais fortes deste desafio. Não podemos mais falar de relação com o consumidor ignorando o potencial do digital e desconhecendo o seu comportamento nos canais digitais. Dentro das empresas, os dados serão cruciais para imprimir agilidade e rapidez na tomada de decisões.
5. Capacidade de as empresas prepararem uma estratégia de longo prazo
Para contornar esta crise, espera-se que as empresas acelerem as suas capacidades, quer na geração de negócio, quer na gestão das suas operações.
As empresas que já investiram em soluções integradas de ERP e PLM , beneficiam de dados em tempo real, que lhes permite flexibilizar com a velocidade necessária para responder aos desafios que vão surgindo, sejam estes mais ou menos previsíveis. E esta poderá ser a maior vantagem em todo o processo.
Um processo de transformação digital pode demorar mais tempo do que aquele que a maioria das empresas dispõe ou precisa para fazer face à crise eminente. É preciso ser ambicioso e ter um plano claro, que combine a estratégia de longo prazo com pequenas iniciativas que permitam à empresa gerar valor pelo caminho da transformação.
Mas mais que as empresas individualmente, o próprio setor tem de se repensar como ecossistema de conexão entre os diversos atores na cadeia de fornecimento, com a partilha de dados entre si, de forma colaborativa e alinhada. Ser uma plataforma de ligação eficiente entre as diversas entidades digitais, para criação de um bem maior, que é o futuro sustentável. Esta transformação permitirá criar a tão ambicionada transparência em toda a cadeia, permitindo atingir altos níveis de eficiência.
Cabe a cada empresa se preparar agora, para que chegado o momento, seja parte deste todo, digitalizado, conectado e colaborativo.
6. Definir prioridades
As empresas devem refletir nos seus processos de negócio e nas suas estruturas e, baseadas no seu papel na cadeia de valor, definir as suas prioridades.
No que diz respeito ao cliente, as empresas devem proporcionar uma experiência omnicanal única, distinta e verdadeira, maximizando o seu valor. É fundamental o reforço e otimização da presença online, estar capacitado com uma estrutura online bem definida, da mesma forma que são capazes de retirar o máximo partido dos dados, que alavancados por análises avançadas e inteligência artificial, são a verdadeira revolução na indústria da moda. Mapear o comportamento do consumidor é um passo à frente da concorrência.
Na cadeia de fornecimento, as organizações devem adotar o big data e as analises avançadas para gerir de forma preventiva e automática toda a logística. Forecasts preditivos com base em IA, otimização dos armazéns com IoT, digitalização de todo o planeamento, são algumas das áreas em que as organizações podem atuar e melhorar os seus processos, trazendo não só benefícios para a sua gestão, como para os clientes, com respostas mais rápidas, económicas e precisas.
No desenvolvimento de produto e operações de suporte à atividade, é fundamental automatizar tarefas repetitivas no back-office, seja na área financeira, compras e até RH, através das tecnologias, libertando recursos e tempos para outras atividades mais importantes e valiosas.
7. Tempo de agir
O futuro chegou. É preciso escrever um novo capítulo para a indústria da moda, porque as empresas do setor não podem esperar que tudo volte a ser como era.
Este é o melhor momento para investir na transformação digital, que irá permitir às empresas acelerar a sua recuperação, otimizando custos e melhorando a sua eficiência. Só assim se vão adaptar a esta nova reconfiguração do mercado e aproveitar o ritmo da pandemia para evitar o colapso e encarar o momento como uma oportunidade de se reinventarem.